Entrevista Jorge Pescara





 

Em uma tarde de tempo bom em São Paulo me encontrei com Jorge Pescara para um café e um bate-papo onde falamos do seu novo trabalho, planos para o segundo semestre e a divulgação do seu novo instrumento " O MEGATAR ".

Palmeirense gente boa Jorge é um cara de bem com a vida, que está voltando ao Brasil para consolidar sua vitoriosa carreira!!! Um pouco deste papo você vai ler nas linhas abaixo!

 Escutando “ Knight Without  Armour ” percebo uma forte  influência oriental no trabalho,  parece que a temporada na Europa  abriu sua cabeça para outros tipos de som?
Jota, este foi exatamente o objetivo na parte musical, nestes anos lá fora. Tive contatos com música folclórica, clássica, africana, hindus tânica e árabe. Tudo muito rico e cheio de ritmos e melodias diferenciadas. Procurei absorver o tanto quanto pude disto e misturar no caldeirão mental que é minha visão artística pra enriquecer minha paleta sonora.

Como surgiu à idéia para este trabalho? Ele soa pra mim mais como uma trilha sonora do que propriamente um CD instrumental.
Isto vem de algum tempo… pra falar a verdade, já vinha desde os anos 90 e buscava sempre ouvir trabalhos diferentes. World music, música contemporânea, folclórica e outras. Sempre naveguei contra a maré de só ouvir as mesmas coisas. Daí foi mais fácil atingir os objetivos morando lá fora. Quando eu iniciei a pré produção deste disco já tinha na cabeça a idéia da história… fui desenvolvendo a trama e as composições foram fluindo durante este processo todo. Cheguei ao estúdio e o produça (o baterista e produtor alemão, Marc Jung) ajudou a colocar a ‘liga’ em tudo.
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O que mais me chamou a atenção no CD foi que você fugiu totalmente daquele formato baixo, guitarra, teclados e bateria. Isso foi proposital ou as composições foram surgindo por elas mesmas junto com suas pesquisas com o MEGATAR?
Isto de não ter baixo tradicional, nem guitarra fez parte desde o inicio do projeto, já que o touchguitar é um instrumento por si só, auto suficiente. Então não havia a menor hipótese de eu chamar um guitarra pra gravar no disco, porque isto iria rivalizar com os Megatars! (risos)
Mas, falando sério, as composições foram pensadas em formato trilha sonora, só que priorizando a composição e a sonoridade de orquestração com o Megatar costurando tudo. As flautas, os synths, pianos e as percussões são um recheio essencial, mas que brilharam em um bolo que já estava compacto. Por fim, a bateria do Marc Jung foi uma coisa sensacional, porque o cara tem um conhecimento técnico incrível de ritmos.

O CD possui nove faixas assinados por você e algumas parcerias, pode-se dizer que as músicas falam por si ou estão amarradas uma com as outras como se fosse um livro e seus diversos capítulos contando a vida de um personagem?
Sim, claro! Cada faixa conta uma passagem específica da trajetória do personagem, de suas buscas interiores, de suas viagens… por isto, uma música tem um som mais asiático, outra tem um arranjo mais afro, outra traz a coisa épica celta e por aí vai.

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                          Jorge Pescara e a bailarina Joana Puntel (foto do videoclipe The Reptilian Song)

É nítido que este trabalho será um divisor na sua carreira, você anteriormente trabalhava como um side-man, contrabaixista etc e tal. Hoje você aparece como - até onde eu sei - um dos primeiros, senão o primeiro brasileiro a desbravar o mundo do MEGATAR, como está sendo lidar com a expectativa de como o mercado vai aceitar este trabalho?
Com a diferença de que eu não abandonei o baixo elétrico, instrumento que ainda amo e pretendo pesquisar mais e mais técnicas nele. Aliás, já estou terminando outro disco de baixo elétrico que será a continuação do meu primeiro cd (Grooves in the Temple, lançado em 2005 pela Jazz Station Records).
Realmente sou um dos primeiros músicos brasileiros a usar touchguitar em shows e gravações, mas não me canso de frisar que no tapping o Akira S já usava um Chapman Stick em plenos anos 80!
A expectativa existe não em agradar, mas em conseguir atingir os objetivos traçados de apresentar o instrumento de forma digna. Claro que este disco foi gravado usando meus dois Megatars que uso, sendo um com a afinação em quartas justas (B E A D G C nos graves e C# F# B E A D nos agudos) e outro com afinação do Fripp (quintas invertidas nos graves C G D A E B e nos agudos G D A E G C), mas agora também adicionei um Paschalis de 12 cordas que tem uma sonoridade mortal com os pickups Kent Armstrong. No Paschalis eu uso afinação como no Stick tenor (quintas invertidas nos graves, onde a corda mais grossa fica no centro do braço C G D A E B e em quartas nos agudos A D G C F Bb)
  
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Você divide a produção com Marc Jung, qual foi tempo de gestação do CD e como vocês chegaram à sonoridade ímpar do trabalho?
Foram uns dois anos de estudos, pesquisas, composições e pré produção pra depois gravarmos, mixarmos e masterizarmos em 4 meses de trabalho árduo. Marc tem um ouvido extraordinário, além de ser multi instrumentista e possui uma carreira sólida como produtor musical e técnico de som. Quando mostrei a pré produção pra ele, o cara entendeu tudo e colocou as coisas no lugar sem eu precisar gastar muito meu inglês mambembe… (risos)
Foi um período intenso entre as viagens onde me hospedei na casa dele e trabalhávamos até a madrugada pra sonoridade ficar o mais perfeito que pudéssemos. Interessante trabalhar com um alemão, porque eles têm uma maneira muito própria, muito particular de agir em busca da perfeição. O cara não admitia nenhum erro, então fizemos vários e vários takes em busca apenas de uma expressividade maior nesta ou naquela pequena frase de touchstyle. Por conta de uma nota apenas tínhamos que repetir uma frase à exaustão. Aprendi muito com este processo. No estúdio ele trabalha 90% com um super PC todo preparado por ele, e alguns poucos periféricos, mas os 10% do som que ele passa por fita de rolo para o som ficar ‘quente’, fazem a diferença também!

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Falando um pouco sobre o MEGATAR e o Touchstyle, há quanto tempo você vem se dedicando a este instrumento que não é nem um baixo nem uma guitarra e tem uma sonoridade bem peculiar?
Na verdade comecei no Chapman Stick (www.stick.com), mas não cheguei a desenvolver bem nisto porque achava que faltava alguma coisa nele… ou em mim. (risos)
Depois, por volta de 2006 conversei com o Traktor Topaz, criador e desenvolvedor do Mobius Megatar (www.megatar.com), sabendo que ele já conhecia anteriormente alguma coisa do meu trabalho com Stick (através de discos com Ithamara Koorax, Dom Um Romão, Eumir Deodato e Luis Bonfá) e comecei uma parceria, onde uso dois de seus instrumentos e divulgo-os aqui no Brasil e em Portugal, onde morei. Dois lugares onde ele não tinha nenhum endorsee ainda. Os outros touchguitars são um pouco diferentes do Stick, possuem braços mais largos e sonoridade diferente, também. Existem algumas diferenças entre tocar tapping no baixo ou na guitarra e touchstyle em um instrumento específico. Por outro lado, tocar touchstyle no Stick é diferente de usar esta técnica em um touchguitar, seja um Megatar, Warr, etc.
Mas, pra completar sua pergunta eu pessoalmente considero que assumi o touchstyle somente à partir de 2009 quando finalmente iniciei o projeto do disco. Havia dois outros trabalhos na época em que eu usava o Megatar com exclusividade em Portugal, um grupo fusion com música eletrônica chamado Lom[Bo] Project e outro de folk chamado Terra D’Agua, só que nestes projetos eu ainda estava procurando uma sonoridade, uma identidade no instrumento. Agora, com este disco, encontrei minha assinatura, um caminho todo pessoal e pretendo segui-lo.


Estando de volta ao Brasil e com um trabalho tão bacana em mãos qual serão seus próximos passos, existe a possibilidade de tour pelo país o CD será encontrado em todas as praças, serão feitas vendas pela internet etc e tal?
Estou tratando exatamente disto agora, ou seja, ver se organizo uma pequena tour de shows e workshops daqui um tempo. Estou reforçando as parcerias que tenho com a StudioR, a PowerClick e a Elixir, este último com quem tive anos de contrato de endorsee de cordas na Europa e quero retomar aqui no Brasil.
Quanto ao cd, ele já está à venda pelo site da gravadora (www.voiceprint.com.br), no site da distribuidora (www.tratore.com.br) e em breve nas lojas especializadas. Também pretendo vende-lo em shows, workshops, etc.

Ainda existe espaço na agenda para seus projetos como escritor e colunista ou agora sua única preocupação é divulgar este novo trabalho e mostrar aos brasileiros o poder do MEGATAR?
O lance é que tenho que dividir com o baixo elétrico… (risos). Neste momento saíram mais dois discos que eu participo como baixista, e que são muito importantes pra minha carreira. O disco póstumo do Paulo Moura (Paulo Moura e André Sachs, Fruto Maduro - gravadora Biscoito Fino) e o Got To Be Real da Ithamara Koorax (Irma records Europe). Há uma expectativa de eu voltar a tocar com a Ithamara em shows do lançamento deste cd, apesar da triste notícia do falecimento do J.R. Bertrami que foi o tecladista do disco e com quem formávamos o trio da Ithamara desde meados 2005, ao lado do batera Haroldo Jobim (primo do Tom). Então com isto tenho que separar tempo pra escrever matérias pra revista Backstage, o site Musictube, lecionar baixo elétrico, escrever meu próximo livro de baixo elétrico, tocar e gravar com alguns grupos e artistas, cuidar da minha carreira solo, estudar e pesquisar touchguitar… fora que tenho um duo chamado ATACAMA com a pianista, bailarina e designer Renata Puntel, onde uso somente os touchguitars. Espero ter tempo pra tudo isto.
Ah, pra quem quiser conferir alguns videos do touchguitar visite meu canal do Youtube (www.youtube.com/jorgepescara) onde tenho dois video clipes do disco Knight Without Armour e outros quatro do meu duo Atacama, além de outros videos e mp3 no meu perfil musical no Facebook (www.facebook.com/jorgepescara). Há outros vídeos na internet onde participo com o Megatar com os projetos Lom[Bo], YBY e Terra D’Agua, mas estes eu não produzi, só participei. Logo produzirei mais vídeos clipes e vídeos ao vivo também.
  


 Pra fechar a tampa que conselho você daria pra um estudante de música (contrabaixo) que queira desbravar o MEGATAR e o Touchstyle?
Primeiro ouvir muito os caras que são os tops no touchstyle, tipo Trey Gunn, Tony Levin, Markus Reuter, Jan Laurenz, Guillermo Cides, Michael Bernier, e muitos outros. Depois a coisa passa por pesquisar os instrumentos na internet. Mas o principal é ter determinação, porque o instrumento é outro, a técnica é outra, a música muda… tudo é diferente aqui. É como começar do zero novamente. Você reaprende tudo!
E pra quem está preocupado com os altos custos de importação de um touchguitar, saibam que há um excelente luthier em Sampa que faz instrumentos perfeitos. Procurem o Alexandre Paschalis.
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Paschalis e Pescara
 

No mais, obrigado pelo espaço nesta entrevista brow, e aproveito pra agradecer ao Traktor Topaz da Mobius Megatar, ao Alexandre Paschalis da Paschalis touchbass, ao pessoal da StudioR (Ruy Monteiro, Samuel, Francisco, Homero Sette e Norberto), ao Edu Kika da PowerClick e a equipe da Elixir (Eve Cobo - Espanha, Christine Allner - Alemanha, António Pereira - Portugal e o Alexandre Budim - Brasil).
Grd Abrx,
Music & Peace .:.

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