Entrevista Dé Palmeira

Quem viveu os anos 80 como eu, sabe da importância do Barão Vermelho para o rock nacional.
Tive a oportunidade de bater um papo bem bacana com um dos membros formadores do Barão.
Dé Palmeira é um cara boa praça, extremamente acessível e que tem uma estrada de invejar qualquer um de nós.
Aproveite e aprenda!!!!!
Abraço
Jota Jota


Quem conhece a história sabe que você saiu do Barão Vermelho não por motivos musicais, mas pra crescer como músico e expandir as fronteiras. Mesmo assim deve ter sido uma decisão muito bem pensada, certo?
O fato é que eu estava querendo ganhar mais espaço dentro do grupo, compor mais etc… o que não era possível naquele momento, isso gerou em mim certa frustração que foi ficando maior com o tempo e foi dar na minha saída.Sobre a decisão em si, na verdade não pensei muito não.   
Depois que você saiu do Barão você montou o Telefone Gol, que tinha um som muito bacana e clip da música de trabalho lançado no Fantástico etc e tal. O que aconteceu que não vingou este projeto?
O TG foi formado logo após minha saída do Barão, eu convidei o Kadu e o Nani, que tocavam como Lobão e o Sergio Serra, que estava no Ultraje. Era uma "super banda". Compomos as músicas, gravamos demos pra Warner e EMI, fizemos alguns shows e video clipes mas depois de um tempo a coisa foi esfriando. Vários motivos contribuíram pra isso mas o principal foi o fato de que talvez o projeto não fosse lá muito bom mesmo! Rsrsrs.
Nessa época meu equipamento principal era um Schecter JazzBass com pickups EMG(quem construiu esse baixo foi o John Suhr), um preamp Intersound e um Power Carver. As caixas eram Trace Elliot 4x10 e MesaBoogie 2X15.
E teve uma época que você atacou de DJ no Rio de Janeiro, como foi isso? Deixar o Rock para atacar nas pick-ups?
Foi sensacional, mas logo após o fim do TG eu fiquei meio perdidão durante um período. Estava um pouco de saco cheio do cenário do "Rock BR" e não tinha nenhuma idéia do que fazer. 
Acabei freqüentando algumas festas e bailes na época e uma dessas festas era o "Baú do Groove", que o Gustavo Corsi estava fazendo as quintas numa casa no Horto. Numa madrugada dessas ele me convidou pra formarmos uma dupla. No princípio fiquei meio grilado, não sabia bem como fazer aquilo, mas acabei achando bacana.
O conceito da festa era tocar essencialmente "Black Music", depois fomos ampliando e no final tocávamos Clementina junto com Hendrix, Chico Science com James Brown etc… Foi uma época de muito aprendizado, ouvi muita música, comprei muitos discos, me diverti como nunca e ganhei dinheiro. Mas nunca pensei em me tornar um DJ profissional.
Você assumiu um lado side man pouco tempo depois, trabalhou com Fausto Fawcett e formou a Falange Moulin Rouge. Vocês chegaram a cair na estrada? E como foi trabalhar com o Fausto e todas aquelas beldades?
Fizemos muitos shows pelo Brasil com Fausto e a Falange. Era uma banda excelente, tinha o Barone na bateria (depois entrou o Gavin), Dado Villa Lobos na guitarra junto com o Laufer, o Paulo Futura de DJ e eu no baixo. Misturava rock com funk, com samba, baião, hip hop etc… Montamos tudo do zero, gravamos um disco pela Sony music e fomos pra estrada. Foi sensacional! Tenho saudades dessa banda!
Usava um Precision 78 que eu modifiquei todo, instalei dois pickups e um pré Music Man e um braço de Jazz Bass maple.
Era um p…som! Chegava em qualquer lugar e sempre recebia elogios dos técnicos! 

Um dos shows mais densos e intensos que assisti na minha vida foi um do Lobão no centro cultural aqui em São Paulo, no começo dos anos 2000. Era um Power trio e você estava no baixo, nos conte sobre esta experiência de tocar com o cantor e com foi produzir aquela sonoridade totalmente crua e orgânica do universo paralelo.
É, aqueles shows foram bons pra C… Tinha bateria, Lobão na guitarra e eu. Tinha umas programações num ADAT também. Acho aquela formação muito boa até hoje.
Gravei com Lobão nos discos "Noite" e "A Vida é Doce" e quando ele foi pra estrada me convidou pra tocar, fizemos shows em circuitos alternativos, universitários e foi muito bacana. Eu usava um Music Man StingRay afinado em BEAD com um overdrive ligado o tempo todo. Aquilo fazia o som do baixo ficar pesado e ao mesmo tempo era como se fosse outra guitarra, então não ficava vazio quando o Lobão solava ou fazia uma melodia.
O grande mistério de tocar em trio é saber como ocupar os espaços, tanto na maneira de tocar quanto no timbre que você usa. É um exercício muito legal.
Depois de tantas experiências musicais você foi trabalhar com a Adriana Calcanhotto, fazendo a direção musical e produzindo o trabalho da cantora. Isso foi mais um desafio pra você ou com tantos anos de estrada você já estava calejado para o trabalho?
 Ah, por mais que você esteja calejado toda nova experiência precisa ser um desafio, senão nem vale a pena. Eu gosto de entrar em universos que não conheço e tentar aprender e extrair coisas novas.
Produzir, compor e tocar com a Adriana foi musicalmente bastante enriquecedor. Fizemos quatro discos, um DVD, muitas turnês e diversos outros trabalhos onde pude experimentar muitas coisas.
Além disso, nos tornamos parceiros em algumas lindas canções. Isso foi muito bacana!
Ensaio dos TS ( na bateria João Barone)  
Fale-nos sobre os The Silva’s.
O TS é um trio de "surf music" que toca muito esporadicamente. O Barone e o Liminha se juntaram pra tocar numa festa de aniversário e depois me convidaram.
Eu adoro tocar Surf Music, é um universo muito bacana, com seus códigos próprios de fraseados e timbres… Nunca tinha tocado esse tipo de som, mas fui pegando o jeito. No começo, a gente ia pro estúdio e ficava só ouvindo os discos e sacando como os caras tocavam. Aquilo pra mim ali é o verdadeiro "Bass Guitar", no sentido de guitarra mesmo. O baixo é sempre muito fraseado.
Agora no começo de 2012 o João conseguiu reunir o trio novamente e fizemos alguns ensaios pra um evento.
Tenho usado um Zaganin P e um BassMan 100 na MesaBoogie 2X15. É um puta som de baixo! Tô viciado nesse setup!
Voltando um pouco no tempo, gostaria que você confirmasse uma história que eu li na revista Bizz há muito tempo atrás. Você estava em uma gravação com o Barão e quem estava produzindo era o Liminha. Pra cada linha de baixo que você fazia o Liminha ia lá e gravava outra melhor ainda, isso fazia você fazer uma melhor e as linhas deste CD saíram todas umas pérolas. Mas causou certo desconforto da sua parte rsrsrs. Confere isso ou foi papo de quem fez a matéria?
Não me lembro de ter dado essa declaração. A gravação a que essa matéria se refere foi a do "Rock n' Geral" (1987), e a verdade é que eu me diverti muito.
Algumas linhas foram realmente criadas a quatro mãos e nunca rolou desconforto de parte alguma. Muito pelo contrário. O que rolou foi uma bela troca de idéias e o resultado fala por si. E também não houve essa história do Liminha gravar os baixos. Ele gravou foi algumas guitarras nesse disco.
Como era o processo e criação na época do Barão... Como surgiram riffs  lendários tipo (Pense e Dance) e a sua linha de (Beth Balanço)?
O Barão sempre teve o Frejat como seu principal compositor, mas de vez em quando eu aparecia com uma idéia bacana também.
O riff de "Pense e Dance" tem uma historia engraçada. Foi feito por mim a partir de um problema no meu carro! rsrsrs.
Eu tinha um Golzinho que estava com um problema no rolamento, ele fazia um barulho ritmado e aquilo com o tempo foi ficando cada vez mais alto, mas como eu gostava da batida então fui deixando. rsrs. Tinha noites que eu ficava andando de carro só pra ouvir o "beat". rsrsrsr! Era como uma bateria eletrônica.
Até que um dia veio a idéia do riff. Fui pra casa com a idéia na cabeça e gravei. Mostrei pro Frejat que se amarrou e fez a segunda parte, Guto fez a letra.
"Pense e Dance" estourou na novela Vale Tudo, (tema da vilã Maria de Fátima, interpretada por Glória Pires) depois nas rádios e foi muito responsável pela volta do Barão ao cenário musical. Até então ainda éramos vistos como a "ex-banda do Cazuza".   
Foi gravada com um Jazz Bass, de palheta, usando linha e amp.
A gravação de Bete Balanço foi tranquila, chegamos no estúdio, ouvimos a música e saí tocando aquela linha, que é mais ou menos o desenho que a guitarra faz. Ninguém reclamou, isso no Barão era sinal de que vc estava fazendo algo legal. Rsrsrsrsrsrs!
No final acabou virando uma linha famosa do Barão e sou feliz por isso.
Gravei com um baixo Kramer DMZ5000 (com o braço de alumínio) e pickup DiMarzio model P, direto na linha.

Qual a melhor cozinha: Dé Palmeira e Guto Goffi ou Dé Palmeira e Kadú Menezes.
Hahahaha! Não me obrigue a dizer a verdade!! ;-)
O fato é que eu sempre tive a sorte de tocar com bateras muito bons, esses que vc citou e também o Barone, o Charles, Cesinha, Jorginho Gomes, Marcelo Costa e o Da Costa …Tantos! Um bom batera é tudo o que um baixista precisa. 
Agora falando como fã e baixista, obviamente respeitando muito o Dadi e o Rodrigo, de todos os baixistas do Barão (pra mim você sempre foi o melhor), sei que você ainda tem muito contato com o Frejat e toda a galera da banda... Nunca rolou uma vontade de voltar para a Banda?
Obrigado pelas palavras Jota. Na verdade tenho uma ligação antiga com ambos.  
O Dadi é um dos meus mestres, eu sou fã dele e nos conhecemos desde que eu era moleque. Gostava de Novos Baianos quando nem tocava, quando estava começando a tocar ia aos ensaios da Cor do Som, tirava todos os baixos e solos… Senti como uma homenagem o fato dele ter entrado no meu lugar.
O Rodrigo eu conheço há tempos também! Dei uma aulas de baixo pra ele há muitos anos. Ele tocou com meu irmão numa banda chamada Front, freqüentava a minha casa…
Sobre voltar com o Barão, honestamente não. Essa hipótese nunca foi cogitada de ambas as partes. Até porque eles têm um excelente baixista que é meu amigo. :-)
Tenho uma boa relação com todos. De vez em quando o Frejat me convida pra tocar com ele quando o Bruno não pode, gravei em todos os seus discos inclusive no seu último single (A felicidade), gravo de vez em quando com o Maurício também, participei do disco solo Guto, fiz uma participação no show do Rodrigo outro dia… enfim, continuamos a tocar juntos de todo o modo. Somos uma família.
O que tem chamado sua atenção no cenário musical brasileiro e mundial?
Luísa Maita, Céu, Curumim, Rabotnik, Glass and Glue… de fora eu gosto de Black Keys, The Kills, James Blake, Jill Barber, o disco do Wilco tá bacana também…
Quais novidades do Dé Palmeira para 2012?
Vou Re-mixar o 1º Cd do Barão que vai ser relançado comemorando os 30 anos de banda. Isso vai ser demais e estou muito contente. Em 2012 estão pra rolar coisas ótimas, mas eu não posso contar agora. ;-)
Pra fechar a tampa, qual o segredo para uma longevidade musical tão grande quanto a sua e um conselho para as novas gerações de baixistas brasileiros?
Bom, nem me acho tão longevo assim, mas pra isso não tem segredo, é só deixar o tempo passar. rsrsrs
Também não sou ninguém pra ficar dando conselho, mas uma coisa que eu sempre digo pra quem quer ser músico é: Em primeiro lugar desista! Se você não conseguir desistir, insista.  :-)
É preciso querer muito pra se tornar um músico e ter uma carreira bacana. Tudo é feito pra você desistir a todo o momento e a vida toda você vai ouvir muito mais "não" do que "sim". Pra você fazer o que você gosta durante duas horas é preciso fazer o que você não gosta durante dez!
Então só se você quiser muito mesmo, se não nem adianta começar.

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