Entrevista Geraldo Vieira

Tive o prazer e a honra de conversar com um dos grandes nomes do contrabaixo brasileiro. 
Com uma agenda movimentada há mais de 30 anos e serviços prestados a grandes nomes da música brasileira Geraldo Vieira passa um pouco do que já fez e está fazendo dentro do MUNDODOGRAVE.




                               
01) Estando na estrada há mais de trinta anos você ainda é constantemente chamado para trabalhos de ponta, qual o segredo desta longevidade musical
      Na verdade acho que o segredo, se é que se pode chamar assim, é o senso de responsabilidade.  Seria inadmissível, sob qualquer aspecto, não dar conta do recado, além do fato de que adoro desafios e isso me estimula mais ainda a me envolver por inteiro em cada um desses projetos. Uma vez que tenha sido chamado, é porque as pessoas confiam no meu trabalho e na minha capacidade, então não admito nada que não seja a perfeição. Sou muito exigente comigo mesmo.
02) Foram tantos trabalhos ao lado de Arrigo Barnabé, Terço, Guilherme Arantes e tantos outros...Quais os que mais te marcaram?
       Todos foram marcantes no sentido de que me proporcionaram experiências únicas e graus diferenciados de desafio. Uns mais, outros menos, mas de qualquer maneira, os mais complexos sempre permanecem vivos na memória  em função das capacidades que exigem, e muitas vezes isso chega a ser dramático (rsss). Entre esses, poderia citar o próprio Arrigo, assim como o Terreno Baldio, a Divina Increnca, O Terço. Outro trabalho marcante e desafiador foi participar da magnífica obra “African Sanctus” com David Fanshawe sob a regência do maestro Neville Creed na sala São Paulo. 
03) Falando um pouco do passado, como foi tocar no MPB Shell em 1980 com o Guilherme Arantes a música Planeta Água?
      Isso foi no início da minha carreira, então dá pra imaginar a emoção e o impacto de se tocar em um estádio lotado com o público emanando uma poderosa energia a nosso favor e embora o resultado tenho sido inesperado, como é de praxe nesse tipo de evento, a sensação foi arrebatadora!! Não dá para exprimir em palavras, a não ser que foi muito bom!! Está entre os pontos altos da minha trajetória.
04) Você sempre atuou como “ side man “ ou também tem um trabalho autoral?
       Tenho um trabalho autoral, mas nunca me senti motivado a lançá-lo oficialmente. Acho que me realizo mais enfrentando desafios cabeludos que exigem um alto nível técnico e de percepção!!
05) Você está na mais recente formação do Terreno Baldio. Como surgiu o convite e como é tocar ao lado de Mozart Mello, Roberto Lazzarini e Cia?
      Bem…todos são velhos amigos de palco e profissão, e já havíamos trabalhado juntos em outras circunstâncias. Nesse sentido foi tranqüilo. O desafio maior foi mesmo assimilar a estética e a linguagem desse trabalho, o convite me foi feito pessoalmente pelo João Kurk .
Capa da primeira vídeo aula de GV
06) Ainda no assunto tocar, como você tem visto essa nova safra de baixistas brasileiros? Destacaria alguém ou algum nome em especial?
      Não destacaria ninguém em especial, mesmo porque não estou tão atualizado em relação aos novos talentos que tem surgido nos últimos anos. Tem muita gente boa por aí, mas diluída em trabalhos populares que não dão espaço para suas capacidades por questão de estética e linguagem. Um exemplo disso é a música "sertaneja", o "pagode", o "axé", enfim, coisas que as pessoas fazem para sobreviver sem nenhum compromisso com a essência da arte, de modo que fica difícil para eu destacar esse ou aquele instrumentista. Meu parâmetro sempre foi a música instrumental, mas ultimamente essa tem tido pouco espaço, então não tem como rss.
07) Desde meados dos anos 90 você também se destaca na área didática, inclusive está lançando um material novo no mercado. Fale-nos um pouco deste seu lado professor.
      Dar aulas e ensinar música é desafiante, pois em algumas situações vc tem que tentar passar um tipo de informação que a teoria em si não pode explicar, principalmente relacionada ao aspecto intuitivo. Ela te dá ferramentas para manipular a intuição, mas não te dá a intuição. Algumas pessoas conseguem desenvolvê-la com dedicação ao instrumento e absorvendo toda a informação possível sobre ele vendo outros músicos, ouvindo bastante e etc. Outros já nascem com essa ficha caída rsss!! E às vezes, também é necessário extrapolar os limites de seu próprio instrumento para fazer isso como, por exemplo, usar a voz para entoar frases, escalas, solos, e por aí afora. Não é preciso se tornar um cantor para isso, mas noções mínimas sobre esse aspecto são de fundamental importância. Mas não é todo mundo que tem facilidade com isso, e aí é que reside a dificuldade quando temos que enfrentar essa situação, que piora bastante quando acontece em aulas em grupo, pois as capacidades variam de um para outro.

08) Com toda essa tecnologia dos nossos dias existe algum tipo de atalho para se tornar um bom músico ou o segredo é o mesmo de sempre:  Estudo, Estudo, Estudo e um pouquinho mais de Estudo?
       A tecnologia dos dias de hj facilitou bastante alguns aspectos, mas a velha receita de sempre continua valendo sem sombra de dúvida. O aspecto puramente técnico do estudo para qualquer instrumento é uma etapa relativamente fácil de transpor, mas passar os conceitos para dentro e desenvolver-se de dentro para fora, é onde muitos encontram dificuldade. No meu método, "CONCEITOS PARA IMPROVISAÇÃO”, exploro esse universo                                                                   

09) Há alguns anos atrás, ao participar de um trabalho em que eu estava envolvido, você me impressionou com o seu nível de leitura. Isso hoje em dia ainda é um diferencial para se ser chamado ou não para um trabalho?
       Vai depender do grau de complexidade desse trabalho e do tempo disponível para assimilá-lo!! Eu mesmo uso a escrita musical para ganhar tempo em muitas circunstâncias, muito embora faça o possível para decorar tudo sem depender da partitura. Mas às vezes não dá. Aquela sessão de gravação que você presenciou, foi um caso bem típico. Geralmente em estúdio você tem que resolver tudo rápido, pois o taxímetro está correndo rsss.

10) Pra fechar com chave de ouro, você teria alguma dica ou conselho para os nossos aspirantes no instrumento?
      A dica de sempre: dedicação total e irrestrita. E também que em música o menos é mais. Assimilar a estética do trabalho que se está envolvido, sua linguagem, sua pronúncia e também ter em mente que existem notas e pausas que devem ser usadas dentro de um conceito de equilíbrio!!

NOTA.

Vale lembrar também que ele está lançando um material didático que reflete todos os anos de trabalho, pesquisa e estudo da sua vitoriosa carreira musical.
Fique ligado!


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