Entrevista André Vasconcellos


Tive o prazer de bater um papo com um dos grandes nomes do contrabaixo nacional, aproveitem os ensinamentos desse jovem Mestre.


01- Como foi voltar a trabalhar com o Djavan na gravação e tour do novo disco?

Foi um prazer muito grande pra mim pois eu me mudei para o Rio de Janeiro em 98 por indicação do grande baterista Carlos Bala, justamente para gravar o disco Bicho Solto do Djavan e que depois levou a gravação do ao vivo. Foram meus primeiros trabalhos de expressão nacional e me marcaram muito. Por isso tenho um carinho e uma ligação especial com o universo Djavan...

Retornar agora depois de ter tocado com tanta gente, adquirido mais experiência, mais vivência do mercado me deixou muito feliz.

02- O que mudou, musicalmente falando, no André que gravou o disco ao Vivo nos começo dos anos 2000 para este que gravou o Ária?

Musicalmente mudou bastante! São 12 anos a mais de amadurecimento...rsrsrsrsrs...

Nesse tempo todo, aprimorei muito meus estudos, tive a oportunidade de conviver e tocar com os grandes músicos e artistas do cenário nacional e internacional o que foi, e tem sido, muito engrandecedor musicalmente ! Lecionei muito em workshops e cursos o que nos faz aprender bastante também ! Acho que o que mudou mais foi a calma que toda a experiência me deu pra tocar. Hoje escolho com mais segurança que caminhos tomar musicalmente, a hora certa de experimentar e a hora do "básico". Acho sua pergunta muito boa porque se refere às mudanças e não melhoras (rsrsrsrs...) Tem muita coisa do "André" dos anos 2000 que eu gostava muito !

Mas no geral me acho um músico melhor...tento buscar as coisas que gosto e trazer pra meu novo universo.

03- Mudando um pouco de assunto, como surgiu a idéia da Casa do Baixo?

A idéia da Casa do Baixo surgiu de uma antiga necessidade minha. Quando eu estava começando, obviamente por vários motivos, não tinha condições de ter muitos instrumentos diferentes. Eu sempre gostei de tocar com a sonoridade e instrumentos certos para cada ocasião musical e, sempre que aparecia um trabalho que me exigia algum instrumento que eu não possuia ou que eu achasse que fosse soar bem naquela situação eu ficava me lamentando: "poxa, se eu tivesse esse baixo ou outro tal aqui iria ser perfeito ! ". Ao mesmo tempo, não dava pra comprar um Rickenbacker ou Hofner ou baixos raros somente para suprir a necessidade de um ou outro trabalho. Ao longo do tempo, fui adquirindo um pequeno "arsenal" e depois de comentar isso com meu sócio e super baixista Maurício Oliveira, juntamos as "armas" e decidimos que seria legal partilharmos isso com os outros baixistas, produtores ou interessados em sonoridades especiais de contrabaixo.Assim nasceu a Casa do Baixo...

PS: queria acrescentar uma curiosidade legal. Essa falta dos intrumentos que eu sentia, me levaram a extrair e conhecer profundamente todas as sonoridades dos baixos que eu ja tinha. Isso me fez aprender e conhecer vários truques para simular sonoridades que vão desde o uso de palhetas, passando por flanelas e esponjas na ponte para abafar o som e tirar o sustain, entre outros !

04- Pelo que me parece lá não é somente um estúdio, mas sim um centro de produção etc e tal?

Exatamente. As pessoas vão lá principalmente para alugar o estúdio e usar os intrumentos. Estamos com vários baixos incríveis e muito bem equipados para gravar. A Casa do Baixo é voltada para os baixistas que querem gravar esses baixos em suas produções ou discos que venham a participar. Os produtores que queiram utilizar diferentes sonoridades també tem procurado a Casa do Baixo.Além das pessoas que mandam trabalhos para mim ou Maurício gravarmos tendo a disposição, todo equipamento do estúdio.

Mas também rolam aulas, consultorias, testes de instrumentos, aluguel para gravações ou filmagens, etc... Tudo que envolva contrabaixo rola lá !!!

Como eu e Maurício também atuamos como produtores musicais e compositores, acaba que às vezes levamos pra lá trabalhos e trilhas que estamos envolvidos além de pessoas que querem apenas alugar o estúdio para pequenas gravações de voz, violão, etc...

05- Fora estes dois trabalhos ainda sobrou tempo pra gravar seu segundo disco, você pode falar um pouco sobre seu novo CD?

Esse novo álbum chamado DOIS, é resultado de todos esses anos viajando pelo Brasil e mundo. Principalmente com o Hamilton de Holanda Quinteto, que é um trabalho muito especial pra mim por, poder tocar com músicos tão virtuoses e grandes amigos !

Foi basicamente nas viagens com esse grupo que nasceu o repertório do disco.

São as minhas impressões musicais das viagens, experiências e sensações que vivi. Seja no palco ou nos lugares por onde passamos.

Diferentemente do primeiro disco, onde gravei e programei a maioria dos instrumentos e, primei por uma estética mais eletrônica, nesse foi tudo gravado ao vivo no estúdio e com instrumentos acústicos.

Fiquei muito feliz com o resultado e tem sido muito legal também, a experiência nos shows !

Tanto que até julho lançarei um álbum de um desses shows...tá bem legal...

06- Você é - faz tempo - uma das grandes referências de uma nova safra de músicos "baixitas " brasileiros. Existe alguém que chamou a sua atenção nos últimos tempos e por quê?

O Brasil talvez seja o país com a maior quantidade de grandes baixistas ! Tô falando sério !!

São tantos e de várias gerações diferentes, de linguagens e técnicas diferentes, baixistas compositores, produtores e etc... Pra mim é uma honra ser baixista brasileiro !

É complicado falar de novos baixistas pois não sou tão velho assim...rsrsrsrs...

Brincadeiras a parte, da minha geração gosto muito do Thiago Espírito Santo, Maurício Oliveira, Alberto Continentino, do Bruno Aguilar, Guto Wirti, Ebinho Cardoso...é difícil citar pois posso deixar alguém de fora...

Dos realmente mais novos, tem dois que me chamam atenção especial que são o Frederico Heliodoro de B.H e o Eduardo Belo de Brasília. Os dois tocam muito bem o baixo elétrico e acústico, compõem, e tem a cabeça aberta. Escutam desde os ícones do baixo até os mais contemporâneos. Sabem conduzir bem e improvisar, são dois caras que podem chegar bem longe!

Além disso, tem uma safra de meninas sensacional tocando muito baixo acústico ! Principalmente erudito... Tem a Manuela, Thaís, Larrissa, Lise, entre outras...

07- Já vi algumas declarações suas dizendo que as novas gerações não devem deixar de lado o fundamento principal do instrumento, o grooove etc e tal. A garotada tende hoje em dia a pensar em fritar o instrumento antes de fazer música?

Olha, pra ser bem sincero tenho visto duas correntes: uma bem interessada e consumida pela "fritação" e outra com o chato discurso do "menos é mais"...Eu adoro os dois !! Adoro baixistas com o lado técnico-virtuose desenvolvido, caras que conseguem tocar a mil por hora e etc ! Também amo uma nota bem colocada, com sustain e som perfeitos...

Mas o que mas gosto são os que sabem tocar o que for preciso em cada contexto musical ! Isso me encanta mesmo...

Imagina um baixista do discurso "menos é mais" tocando no Vital Tech Tone ?? Seria uma porcaria !! Os caras fritando e ele com uma nota achando que está arrasando...

Por outro lado, um cara da fritação tocando com o Toninho Horta, cheio de melodia e nuances e o cara lá fazendo escalas e sweeps sem parar... Ou seja, os dois fora de contexto !

Nem preciso dizer que isso é apenas minha opinião não querendo dizer de certo (x) errado ou melhor (x) pior...

O que me faz a cabeça é ouvir uma música e pensar : " essa é a linha perfeita pra esse som" !

O que não dá pra desconsiderar, é a função do instrumento! Que é a de conduzir... Por isso vamos nos esbarrar mais vezes no assunto groove e levadas, do que no "fritação" de um modo geral.

Mas há espaço pra todos...desde que haja bom gosto !!

08- O caminho da produção acaba sendo natural para nós baixistas, nos conte o que você pensa sobre isto e o quanto você coloca a mão na massa nas produções que está envolvido?

Acho que o baixista pela função que ocupa e por tocar um instrumento pode atuar no ritmo, harmonia e melodia, acaba tendo uma boa visão geral da organização da música. Acho que vem daí o fato de muitos se tornarem ou atuarem também na área de produção.

Eu já produzi vários discos de artistas e gosto bastante também. Nas produções que estou envolvido, mas que atuo somente como baxista, procuro servir o produtor da melhor maneira possível. Pesquisar sobre o estilo antes de ir gravar, levar os instrumentos adequados, sonoridades...

09- Com uma agenda bem movimentada como é a sua, como se faz pra deixar os estudos em dia?

Os estudos têm que fazer parte da rotina mesmo. Eu estou sempre estudando...

Vai desde exercícios básicos de manutenção da técnica e físico, leitura, harmonia, arranjo e principalmente pesquisa.

Hoje em dia, com a tecnologia, dá pra estudar até no avião! Praticar leitura, ditados rítmicos, ear training e etc. Quarto de hotel, chegar mais cedo ao sound-check são coisas que faço quando a agenda está muito pesada.

Pra mim é um prazer estudar, descobrir novas maneiras, novas idéias e fontes de inspiração.

São nas horas de estudo que se desenvolve a tranquilidade para se tocar ao vivo! A repetição e assimilação bem devagar fazem com que surja a naturalidade no tocar.

Não ache que na hora do show ou gravação, cheio de pressão e outras variáveis você vai sair tocando melhor!!

Pratique lento, assimilando, aprendendo 30 min de exercícios bem feitos valem mais que horas de desleixo.

Estude para poder relaxar na hora de tocar! Pra poder não ficar pensando em escalas, posição de dedos, força, som e etc...

Conheça seu instrumento, descubra os sons, as possibilidades, se prepare para poder curtir o momento do show, a hora de tocar, para abrir espaço para imaginação e inspiração.

Se "proteja" no estudo pra poder se arriscar nos shows !!

10- Quais conselhos você daria para nossos leitores que sonham em ter uma carreira vitoriosa como a sua ?

Se puder dizer que minha carreira é vitoriosa, é porque sou feliz com ela ! Com as escolhas que fiz.

Não existem moldes para ser feliz ! Regras...Cada um sabe o que sonha e pode chegar lá.

Acho que dedicação, comprometimento, paciência e amor no que se faz são requisitos chave para o sucesso em qualquer profissão...

Boa sorte!

Contem comigo...

André Vasconcellos

andrevasconcellos.com.br

youtube.com/avbass

avasconcellosbx (twitter)

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