Entrevista Paulo Soveral
![]() |
Músico, compositor e produtor me concedeu uma das entrevistas mais bacanas que fiz nos últimos tempos.
Conheça e aprenda com este mestre das cordas graves.
Depois de mais de 20 anos na estrada ainda
falta fazer alguma coisa?
Sempre
falta e sempre faltará. Achar que já se
fez tudo tira a motivação para novos horizontes. Procuro estar sempre
atualizado e principalmente antenado com o que está acontecendo no
mercado. Costumo parar para escutar o
que as pessoas - mais novas e mais velhas - estão dizendo. Essa é uma forma de usufruir da minha experiência
sem parar no tempo.
Durante os anos que trabalhei em estúdio aqui
em São Paulo sempre escutei muito falar de você.
Grande músico, produtor, compositor ... Chegar a este status dá muito trabalho?
Eu acho que
é um pouco de tudo, muito trabalho, muita porrada na cara, (rsrs) um pouco
de sorte, ouvir coisas novas e ter instrumentos de
qualidade, mesmo que você tenha que vender seu carro para comprar um (rsrs). Mas,
principalmente estudar, sempre!
Voltando um pouco no tempo como foi trabalhar
ao lado de nomes como Guilherme Arantes, Fábio Júnior e artistas deste quilate?
Foi a
melhor faculdade e pós-graduação que eu tive; aprendi muito todos esses anos trabalhando com tantos
artistas. Isso me proporcionou posicionamento
e exposição muito grande. Tive sorte e acho que o meu talento também contou
para eu permanecer tantos anos nesse mercado tão difícil. Trabalhar com grandes
nomes , me conferiu credibilidade e convites de outros artistas, não só para
fazer shows, como também para gravar. Conheci e fiz muitas amizades com pessoas
importantes do mercado. Trabalhei também com Nico Resende, Léo Gandelman,
Eliane Elias, Carlos Bala, Grupo 1, Michel Freidenson, Teco Cardoso, Nico
Assumpção, Rosa Maria, Mauricio Manieri, Double You e etc., etc.
Ao contrário de muitos artistas
internacionais como Elton John e Rod Stewart, por exemplo, figuras como estas
citadas acima acabam sempre trocando seus músicos ao longo de suas carreiras.
Isso tem algum motivo especial - coisa de brasileiro – ou são obras do acaso?
Sim,
podemos até dizer que é coisa de brasileiro, embora o mesmo ocorra em algumas
bandas internacionais, a exemplo da saída de Ozzy Osbourne da Banda Black
Sabbath, do baixista do Jamiroquai... No
meu caso, especificamente, apesar de o Guilherme Arantes ter trocado a banda
várias vezes, trabalhei com ele durante 14 anos. No caso do Fábio Júnior, Nico Rezende, Maurício Manieri trabalhei
menos tempo, enquanto que com o Double
You estou perto de completar a maioridade.
É óbvio que artistas, assim como músicos, têm inseguranças. Às vezes o
artista acredita que o fato de trocar a banda poderá resgatar um grande momento
de sucesso já vivido. Mas como tudo na
vida tem altos e baixos (e baixistas...rsrs)
muitas vezes artista e músico não entendem essas fases de bons e maus
momentos. Alguns se atrapalham tanto, que nem conseguem voltar mais para o
mercado.
Soveral, porque todo baixista acaba
enveredando pra produção ou direção musical?
Ainda outro
dia discuti sobre isso. Eu acho que o baixo é o coração e a pulsação de uma
banda. Isso não quer dizer que o baixista é mais do que os outros
instrumentistas, mas a visão dele é diferente sobre tudo que está acontecendo,
tanto no palco como no estúdio. É uma coisa natural do baixista que, inclusive,
pensa diferente: para o baixista musicalmente menos às vezes é mais, mesmo
quando dirige um vocal ou faz uma auto critica sobre o que está acontecendo em
um arranjo. Acho que é essa intimidade com a objetividade que faz o baixista
enveredar para a produção e a direção musical.
Soveral e Verdine White na NAMM Show 2012 |
Como você foi virar compositor de trilhas de
novela, peças teatrais etc. e tal?
Sempre fui
compositor, mas, por atuar como músico, nunca tive tempo de batalhar a
divulgação de minhas músicas. Isso requer muita dedicação, paciência e sorte.
Fazendo shows e gravando muito, o tempo foi passando e eu fui deixando as
composições na gaveta... Até que um diretor musical da Rede Record, Cláudio
Erlam, me pediu algumas composições para apresentar ao novo núcleo de
novelas. Acertei de cara com “Se Ainda
Sou Como Sou” e a partir dai não parei mais. Já foram quatro novelas para a
Record, além de produção e trilhas instrumentais. Agora estou para emplacar uma
novela da Globo também.
Com relação
a teatro, já fiz vários musicais para peças do grupo teatral Parlapatões; acho
que umas cinco ou seis, onde a repercussão foi muito boa. Musicalmente falando,
acho que o teatro precisa se atualizar e se modernizar mais. Apresentei novas propostas e as coisas estão
acontecendo. Já tenho outros convites para musicar peças de outros grupos de
teatro.
O último
espetáculo que musiquei para os Parlapatões, “DNA-Somos Todos Muito Iguais”
está concorrendo entre os finalistas ao prêmio Governador do Estado.
E seu trabalho ao lado do William Naraine no
Double You?
William é
um artista fantástico, um grande cantor, um grande compositor e um grande amigo
também. Trabalhamos juntos desde 1994.
Hoje estamos compondo juntos e fazendo produções de outros artistas. É muito
gratificante trabalhar com o Double You.
Além de tocarmos muitos hits, estamos sempre nos atualizando e compondo
coisas novas. Double You é a banda mais antiga e mais moderna do seu segmento
musical. Trabalhamos muito, mas também nos divertirmos bastante no palco e fora
dele.
![]() |
Com William Naraide do Double You |
Com tantos compromissos na agenda, você ainda
consegue ter uma rotina no instrumento?
Sempre que
eu posso, eu estudo um pouco. Nem que
sejam quinze minutos por dia, acho importante manter a mão sempre no eixo. Como
eu gravo bastante, também é uma forma de manter uma rotina com instrumento.
Atualmente, estou estudando um pouco a técnica do Vitor Wooten, que achei
fantástica. O cara é um cavalo tocando...rsrs . Mas vou revelar uma coisa aqui
na entrevista, meu instrumento principal é o violão de Nylon, acredita??? Rsrs.
Brinquedo novo |
9)Como compositor, músico e produtor você deve
se preocupar ‘’ um pouco ‘’ com o mercado musical. Estamos vivendo um período
de vacas magras na música pop. Você destaca algum nome em algum segmento
musical?
Infelizmente
está muito difícil de enxergar uma luz no fim do túnel. Eu venho de uma época
em que surgiram várias bandas e artistas como Lulu Santos, o próprio Guliherme
Arantes, Paralamas etc., etc. O problema no Brasil, são os intermediários que
enxergam a música apenas com fins lucrativos e aplicam investimentos
monstruosos em um só tipo de seguimento musical. Acho que as novas bandas como
O Rappa, Jota Quest , Skank e outras não fortaleceram o seu próprio segmento e
isso causou um dano muito grande para a música Pop. Pensar no sucesso sozinho é
uma burrice. Quando eu viajo para o exterior, fico impressionado com a quantidade
de novas bandas que surgem apadrinhada por grandes nomes. Isso significa que
eles não deixam um só tipo de segmento tomar conta do mercado, como é no Brasil,onde
o sertanejo tomou conta geral, porque foram mais inteligentes e menos egoístas.
A maioria vai dando força um para outro, e o mercado deles se fortifica cada
vez mais, coisa que não aconteceu no mercado Pop Rock, Pagode e instrumental.
Que conselho você daria para um aspirante a
baixista que deseja ter uma carreira como a sua?
Largue
o bass e corra para bem longe, vá
estudar direito, arquitetura, medicina...rsrs, Brincadeira, eu acho que para se
destacar hoje no mercado é mais difícil, porque a concorrência aumentou muito.
Há muitos bons músicos tocando por ai, que nunca se ouviu falar. Mas acho que
todos têm o direito (e a obrigação) de perseguir seus sonhos. Portanto, o
esforço e o estudo diário são imprescindíveis para quem quer seguir essa
carreira e se manter nela. Tem que ter muita disciplina, humildade, meta e foco
naquilo que pretende alcançar como músico e principalmente muita sorte. Então,
fé, força e boa sorte!
Bjs
Paulo Soveral
Comentários
Grande Paulo Soveral... ai sou fã de carteirinha!
Grande abraço !
JäähRios